quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"E nenhum estrangeiro trabalhará..."


Além da mudança nas transações comerciais, houve grandes mudanças no modo de produção. No regime feudal, tudo era produzido de acordo com as necessidades do feudo e quem realizava esse trabalho era o próprio servo. E assim tudo era feito, de móveis a vestuário. Não havia possibilidade de se criar excedentes acerca dessa produção, pois não existia uma economia de mercado.


Mas, com a expansão do comércio, o crescimento das cidades e a liberdade de grande maioria dos servos, foi necessário o estabelecimento de pontos comerciais onde os trabalhadores iriam produzir e desenvolver seus ofícios não só para sua subsistência mas também para abastecer a grande procura das cidades.


Deste modo, surgiu o mestre, o aprendiz e o jornaleiro. O mestre era quem dominava todas as técnicas do ofício; o aprendiz vivia com o mestre por um período de tempo até que estivesse apto a dar continuação ao ofício e o jornaleiro era o aprendiz que ainda não tinha recursos suficientes para se estabelecer sozinho e assim, virava um trabalhador assalariado do seu mestre.


E assim, originou-se a primeira unidade industrial. O mestre com seus aprendizes e jornaleiros que juntos num vão da casa, que tivesse saída para a rua, desenvolviam seus ofícios e comercializavam lá mesmo. O conjunto dessas pequenas oficinas que cuidavam de um mesmo ofício deu origem às corporações. Estas tinham as próprias leis trabalhistas, mas todas visavam o monopólio comercial de sua região; não aceitavam de modo algum que qualquer estrangeiro viesse a prejudicar suas transações comerciais.


As corporações artesanais, também, não incentivavam a concorrência entre seus artesãos de tal modo que um mestre poderia ajudar na produção mensal de outro. Além disso, criaram um sistema de auxílio ao artesão idoso ou desempregado bem como estabeleceram supervisores responsáveis por inspecionar as produções de modo a manter a mesma qualidade do produto final em todas as oficinas.


Algo, porém, veio para acabar com a igualdade de direitos e a não-concorrência nas corporações: o uso do dinheiro. No finzinho do período feudal, a Igreja ainda tinha bastante controle da sociedade e estabeleceu, através de uma usura moderada, o "justo preço" das mercadorias; de tal modo que o comerciante não teria grande lucro, apenas viveria com o suficiente para se manter.


Agora, porém, com a grande movimentação financeira e um maior alcance comercial, os padrões do capital mudaram e, assim, o "justo preço" passou a ser o "preço de mercado" estabelecido pela lei de oferta e procura.


A partir disso, iniciou-se uma grande concorrência entre os membros de uma mesma corporação; aqueles que prosperavam, tinham mais poder até no sistema de controle social. Com o tempo, tornava-se cada vez mais difícil uma ascensão de aprendiz a mestre e mais, os artesãos mais ricos passaram a fazer parte do governo municipal.


As classes mais pobres criaram sindicatos ou outras corporações opositoras com o objetivo de reinvidicar seus direitos. Tudo em vão. As cidades passaram a ser exemplos de desigualdades sociais gritantes. O "povão" passara das mãos do senhor feudal para ser comandado pelos riquíssimos mercadores burgueses. O sistema de corporações faliu e um novo sistema social surgia.

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